segunda-feira, 11 de junho de 2012

LÁZARO REDIVIVO





LÁZARO REDIVIVO

Conta-se que Lázaro de Betânia,, depois de abandonar o sepulcro, experimentou, certo dia,
fortes saudades do Templo, tornando ao santuário de Jerusalém para o culto da gentileza e
da camaradagem, embora espesse de coração renovado, distante das trocas infindáveis do
sacerdócio.
Penetrando o átrio, porém, reconheceu a hostilidade geral.
Abiud e Efraim, fariseus rigoristas, miraram-no com desdém e clamaram:
– É morto! é morto! voltou do túmulo, insultando a Lei!...
Ambos os representantes do farisaísmo teocrático demandaram os lugares sagrados, onde
se venerava o Santo dos Santos, num deslumbramento de ouro e prata, marfim e madeiras
preciosas, tecidos raros e perfumes orientais, espalhando e notícia. Lázaro de Betânia, o
morto que regressara do coma, zombando da Lei, e dos Profetas, trazia, ali, afrontosa
presença aos pais de raça.
Foi o bastante para revolucionar fileiras compactas de adoradores, que oravam e
sacrificavam, supondo-se nas boas graças do Altíssimo.
Escribas acorrentam apressados, pronunciando longos e complicados discursos; sacerdotes
vieram, furiosos e rígidos, lançando maldições, e aprendizes dos mistérios, com zelo
vestalino, chegaram, de punhos cerrados, expulsando o irrelevante,
– Fora! fora!
– Vai para os infernos, os mortos não falam!...
– Feiticeiro, a Lei te condena!
Lázaro contemplaria o quadro, surpreendido. Observava amigos da infância vociferando
anátemas, escribas que ele admirava, com sincero apreço, vomitando palavras injuriosas.
Os companheiros irados passaram da palavra à, ação. Saraivadas de pedras começaram a
cair em derredor do redivivo, e, não contente com isso, o arguto Absalão, velha raposa da,
casuística, segurou-o pele túnica, propondo-se encaminhá-lo aos juízes do Sinédrio para
sentença condenatória, depois de inquérito fulminante.
O irmão de Marta e Maria, contudo, fixou nos circunstantes o olhar firme e lúcido e bradou
sem ódio:
– Fariseus, escribas, sacerdotes, adoradores da Lei e filhos de Israel : aquele que me deu a
vida, tem suficiente poder para dar-vos a morte!


Estupor e silêncio seguiram-lhe a palavra,
O ressuscitado de Betânia desprendeu-se das mãos desrespeitosas que o retinham,
recompôs a vestimenta e tomou o caminho da residência humilde de Simão Pedro, onde os
novos irmãos comungavam no amor fraternal e na fé viva.
Lázaro, então, sentiu-se reconfortado, feliz...
No recinto singelo, de paredes nuas e cobertura tosca, não se viam, alfaias do Indostão,
nem, vasos do Egito, nem preciosidades da Fenícia, nem custosos tapetes da Pérsia, mas ali
palpitava, sem as dúvidas da Ciência e sem os convencionalismos da seita, entre corações
fervorosas e simples, o pensamento vivo de Jesus - Cristo, que renovaria o mundo inteiro,
desde a teologia sectária de Jerusalém ao absolutismo político do Império Romano.

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