segunda-feira, 11 de junho de 2012

AOS MÉDIUNS



AOS MÉDIUNS

Desde o momento em que as irmãs Fox, em Hydesville, começaram a suportar a ironia e a
suspeita do próximo, por haverem estabelecido uma nova modalidade de comunicação com
o Além, vocês todos, meus amigos, foram assinalados pelo mesmo destino.
Para os cristãos dos tempos apostólicos; não chegavam as cordas e as cruzes; para vocês,
é preciso inventar novo gênero de sarcasmo e zombaria. Não basta o ridículo, faz-se
necessária a perseguição.
Os soldados, no campo de batalha, mormente os que suportam a metralha da frente,
adquirem vantagens perante as forças políticas que representam e, se feridos ou mutilados,
recebem especial consideração. Vocês, todavia, combatentes pela vitória da espiritualidade,
não gozarão semelhantes prerrogativas no mundo, porque a tarefa representativa de que são
portadores obedece a títulos que vêm de mais alto.
Os sacerdotes das várias confissões religiosas da Terra, diplomados na cultura do século,
desfrutarão garantias sociais respeitáveis, em seu ministério de orientação das almas,
ligados aos interesses temporais das facções a que servem, mas vocês lutarão nas
vanguardas de trabalho pela restaurarão da fé viva e não terão horas de lazer, nem
privilégios estabelecidos. Em atividade permanente para reduzir a invasão das sombras,
chorarão, em silêncio, porque, como poucos, vocês conhecem as dores indizíveis e
irremediáveis que não podem ser narradas pela boca para serem extintas no coração.
Servirão sem tréguas, observados atentamente pela crueldade dos inimigos e ameaçados
pela imprudência de muitos amigos, que não sabem onde situar o entusiasmo e o
retraimento.
Porque os olhos de vocês divisam outros domínios vibratórios e os ouvidos registram sons
que a maioria dos mortais não percebe, a calúnia lhes rondará a porta do lar, o ridículo
seguir-lhes-á o nome. Por um amigo sincero, terão mil adversários gratuitos, e se caírem
exânimes no combate silencioso, devido às deficiências e limitações corporais, muitos
daqueles que lhes sorriam ontem perguntarão, maliciosos, se vocês atraiçoaram o mandado
recebido. Muitas vezes, se o sono e as exigências do organismo dilatarem a pausa de
repouso, indispensável ao mecanismo das células físicas, serão acusados de maus irmãos.
Por isso, muitos de vocês se retraem ao santuário doméstico, onde as glórias da confiança e
do amor são lauréis imperecíveis da alma. Entretanto, sempre chegará o dia de enfrentar a
longa e espessa floresta humana, onde os encarnados, em maioria, se batem como javalis
ferozes, uns com os outros.
Não duvidem. As horas difíceis soarão sempre e é necessário armar o coração para os
grandes testemunhos.


Consolem-se na certeza de que não sofrem inutilmente. Tempo virá em que os homens
compreenderão que a mediunidade não está circunscrita a determinados seres. Todas as
criaturas são instrumentos do bem ou do mal, médiuns do plano superior ou inferior, no
campo infinito da vida. Ninguém foge à corrente de inspiração com que sintoniza. E todos os
que marcharam na vanguarda da verdade e da luz sofreram o assédio da mentira e da treva,
não obstante a sua condição de instrumentos da Providência Divina para o aperfeiçoamento
e felicidade do mundo.
Localiza-os a História, em todos os tempos.
Giordano Bruno foi queimado por ensinar as leis da Natureza. Galileu morreu cego, depois
de sofrer, já septuagenário, escandalosas acusações por divulgar alguns detalhes das
maravilhas celestes. João Huss, o precursor da Reforma, experimentou a fogueira.
Gutenberg foi processado, entre dissabores e vicissitudes, terminando a existência, em
extremo infortúnio, na companhia de um clérigo que o recolheu caritativamente. Pestalozzi, a
princípio, era considerado mau aluno. Edison suportou o sarcasmo de técnicos e acadêmicos
dos últimos tempos. Pasteur, em certa ocasião, na cadeira de Química do Instituto de Dijon,
foi tido por medíocre. Para que intensificar as citações? Quase todos os que pugnaram com
Jesus pelo mundo melhor, nos primeiros séculos do Cristianismo, receberam bofetadas e
açoites, devassas e confiscações, pedradas de ingratos e insultos de ignorantes, servindo de
pasto a feras, gemendo nos cárceres ou atados em postes de martírio. E como só a objetiva
do tempo consegue fixar as verdadeiras imagens do bem, as gerações posteriores
exaltaram-lhes os sacrifícios, aureolando-lhes o nome de glória universal.
Trabalhem e sofram, pois, amando a tarefa a que se consagraram, não só pelo resgate do
passado, senão também pela sublime alegria de iluminação do presente. Lutem e esperem.
Não somente vocês, mas todos os homens devotados ao trabalho construtivo e redentor do
mundo, estejam na pobreza ou na prosperidade, nas artes ou nas ciências, nas letras dos
livros ou nas leiras dos campos, são missionários da elevação da Terra, não a serviço das
dominações efêmeras do planeta, mas em valiosa cooperação com aquele Rei coroado de
espinhos.

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