segunda-feira, 18 de junho de 2012

PÁGINA ESTIMULANTE


PÁGINA ESTIMULANTE

Declara-se você de alma ferida e entrega-se ao desgosto, perdendo tempo.
Entretanto,
se você não sofre contrariedades e desapontamentos;
se não encontra opositores;
se não precisa lutar para vencer obstáculos;
se não tem um parente difícil que lhe ajude o coração a curvar-se perante
os outros;
se não necessita servir por amor de alguém;
se não carrega algum impedimento orgânico:
se não suporta problemas em casa;
se não conhece pessoas que lhe abrem caminho a provas e tentações...
então, você estará correndo o risco de permanecer indefinidamente nas
retaguardas da evolução.
Lembre-se:
a obra-prima de escultura é arrancada ao bloco de pedra pelo artista, a
golpes de buril: igualmente, nós outros, sem o concurso da dificuldade e do sofrimento
não seremos arrebatados ao mármore dos impulsos primitivistas.
E se a obra-prima, antes de se corporificar, é sempre o ideal do artista
dormindo na pedra, no mármore dos instintos, antes da necessária sublimação, cada um
de nós é um sonho de Deus.

PENSE E NOTE


PENSE E NOTE

Evite menosprezar-se.
Você é uma criação de Deus.
Terá deficiências, é claro, mas é justo observar que todos nos achamos no cadinho do
progresso.
Dificuldade é medida de avaliação dos nossos recursos.
Dor é sublimação.
Erro é experiência.
Recorde a sua originalidade.
Ninguém possui idéias totalmente iguais às suas.
Sua voz e suas mãos são únicas.
As marcas de sua presença destacam-se inconfundíveis
Aceite-se, desse modo, tal qual é, procurando melhorar-se.
Trabalhe, quanto se lhe faça possível, no bem geral, reconhecendo que se os outros
precisam de você, também você necessita dos outros.
Guarde a consciência tranqüila, vivendo a existência que Deus lhe concedeu.
E lembre-se: cada qual de nós, até que se integre na Grandeza Suprema, é uma obraprima
de inteligência em processo de habilitação na oficina da vida, a caminho da
Perfeição.

domingo, 17 de junho de 2012

CÓDIGO DE ÉTICA DOS ÍNDIOS NORTE-AMERICANOS


CÓDIGO DE ÉTICA DOS ÍNDIOS NORTE-AMERICANOS
*1. Levante com o Sol para orar. Ore sozinho. Ore com freqüência.
O Grande Espírito o escutará se você, ao menos, falar.

*2. Seja tolerante com aqueles que estão perdidos no caminho. A ignorância, o convencimento, a raiva, o ciúme e a avareza, originam-se de uma alma perdida.
Ore para que eles encontrem o caminho do Grande Espírito.

*3. Procure conhecer-se, por si próprio. Não permita que outros façam seu caminho por você. É sua estrada, e somente sua. Outros podem andar ao seu lado, mas ninguém pode andar por você.
*4. Trate os convidados em seu lar com muita consideração. Sirva-os o melhor alimento, a melhor cama e trate-os com respeito e honra.
*5. Não tome o que não é seu. Seja de uma pessoa, da comunidade, da natureza, ou da cultura. Se não foi ganhado nem foi dado, não é seu.
*6. Respeite todas as coisas que foram colocadas sobre a Terra. Sejam elas pessoas, plantas ou animais.
*7. Respeite os pensamentos, desejos e palavras das pessoas. Nunca interrompa os outros nem ridicularize, nem rudemente os imite. Permita a cada pessoa o direito da expressão pessoal.
*8. Nunca fale dos outros de uma maneira má. A energia negativa que você colocar para fora no universo, voltará multiplicada a você.
*9. Todas as pessoas cometem erros. E todos os erros podem ser perdoados.
*10. Pensamentos maus causam doenças da mente, do corpo e do espírito. Pratique o otimismo.
*11. A natureza não é para nós, ela é uma parte de nós. Toda a natureza faz parte da nossa família Terrena.
*12. As crianças são as sementes do nosso futuro. Plante amor nos seus corações e ágüe com sabedoria e lições da vida. Quando forem crescidos, dê-lhes espaço para que cresçam.
*13. Evite machucar os corações das pessoas. O veneno da dor causada a outros, retornará a você.
*14. Seja sincero e verdadeiro em todas as situações. A honestidade é o grande teste para a nossa herança do universo.
*15. Mantenha-se equilibrado. Seu Mental, seu Espiritual, seu Emocional, e seu Físico, todos necessitam ser fortes, puros e saudáveis.
Trabalhe o seu Físico para fortalecer o seu Mental.
Enriqueça o seu Espiritual para curar o seu Emocional.

*16. Tome decisões conscientes de como você será e como reagirá. Seja responsável por suas próprias ações.
*17. Respeite a privacidade e o espaço pessoal dos outros. Não toque as propriedades pessoais de outras pessoas, especialmente objetos religiosos e sagrados. Isto é proibido.
*18. Comece sendo verdadeiro consigo mesmo. Se você não puder nutrir e ajudar a si mesmo, você não poderá nutrir e ajudar os outros.
*19. Respeite outras crenças religiosas. Não force suas crenças sobre os outros.
*20. Compartilhe sua boa fortuna com os outros. Participe com caridade.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sinais de Alarme

 

Sinais de Alarme

Há dez sinais vermelhos, no caminho da experiência, indicando queda provável na obsessão: quando entramos na faixa da impaciência;
quando acreditamos que a nossa dor é a maior;
quando passamos a ver ingratidão nos amigos;
quando imaginamos maldade nas atitudes dos companheiros;
quando comentamos o lado menos feliz dessa ou daquela pessoa;
quando reclamamos apreço e reconhecimento;
quando supomos que o nosso trabalho está sendo excessivo;
quando passamos o dia a exigir esforço alheio, sem prestar o mais leve serviço;
quando pretendemos fugir de nós mesmos, através do álcool ou do entorpecente;
quando julgamos que o dever é apenas dos outros.
Toda vez que um desses sinais venha a surgir no trânsito de nossas idéias, a Lei Divina está presente, recomendando-nos a prudência de amparar-nos no socorro da prece ou na luz do discernimento.
* * *

Notas de bem viver

 

Notas de bem viver

Por maiores sejam os obstáculos, procura doar o melhor de ti, na execução das tarefas que te cabem.
*
Se erraste, recomeça.
*
Se caíres, pensa em tua condição de criatura humana, reajusta as próprias emoções e reergue-te para caminhar adiante.
*
Desânimo, em muitos casos, é a ausência de aceitação do que ainda somos, ante a pressa de ser o que outros, pelo esforço próprio nas estradas do tempo, já conseguem ser.
*
Coragem é a força que nasce da nossa própria disposição de aprender e de servir.
*
Não te ausentes dos próprios encargos.
*
Dever cumprido é passaporte ao direito que anseias usufruir.
*
Não acredites em felicidade no campo íntimo, sem o teu próprio trabalho para construí-la.
*
Toda realização nobre se levanta na base da perseverança no bem.
*
Compadece-te dos que, porventura, te firam e, ao recordá-lo, exerce a bondade sem ressentimento.
*
Não exijas de ninguém a obrigação de seguir-te os modelos de vida e pensamento.
*
Protege as crianças, tanto quanto se te faça possível, mas não te tortures, ante a escolha dos adultos que esperam de ti o respeito às experiências deles, tanto quanto reclamas o acatamento alheio para com as tuas.
*
Distribui otimismo e simpatia.
*
Irritação não edifica.
*
Não percas tempo com lamentações inúteis, reconhecendo que há sempre alguém a quem podes beneficiar com essa ou aquela migalha de apoio e generosidade.
*
Deixa algum sinal de alegria onde passes.
*
Quando os problemas do cotidiano se te façam difíceis, ao invés de inconformação ou de azedume, usa a paciência.
*
Sempre que necessário, empenha-te a ouvir esse ou aquele assunto, com mais atenção para que possas compreender isso ou aquilo com mais segurança.
*
Lembra-te de que falando ou silenciando, sempre é possível fazer algum bem.
*
Grande entendimento demonstra a criatura que vive a própria vida do melhor modo que se faça possível, concedendo aos outros o dom de viverem a vida que lhes é própria, como melhor lhes pareça.
* * *

Pai Nosso, Que Estás nos Céus


 

Pai Nosso, Que Estás nos Céus

Quando Jesus começou a prece dominical, satisfazendo ao pedido dos companheiros que desejavam aprender a orar, iniciou a rogativa, dizendo assim:
- Pai Nosso, que estás nos céus...
O Mestre queria dizer-nos que Deus, acima de tudo, é nosso Pai.
Criador dos homens, das estrelas e das flores.
Senhor dos céus e da Terra.
Para Ele, todos somos filhos abençoados.
Com essa afirmativa, Jesus igualmente nos explicou que somos no mundo uma só família e que, por isso, todos somos irmãos, com o dever de ajudar-nos uns aos outros.
Ele próprio, a fim de instruir-nos, viveu a fraternidade pura, auxiliando os homens felizes e infelizes, os necessitados e doentes, mostrando-nos o verdadeiro caminho da perfeição e da paz.
Na condição de aprendizes do nosso Divino Mestre, devemos seguir-lhe o exemplo.
Se sentirmos Deus como Nosso Pai, reconheceremos que os nossos irmãos se encontram em toda parte e estaremos dispostos a ajudá-los, a fim de sermos ajudados, mais cedo ou mais tarde. A vida só será realmente bela e gloriosa, na Terra, quando pudermos aceitar por nossa grande família a Humanidade inteira.
* * *

Presença Divina

 

Presença Divina

Um homem, ignorante ainda das Leis de Deus, caminhava ao longo de enorme pomar, conduzindo um pequeno de seis anos.
Eram Antoninho e seu tio, em passeio na vizinhança da casa em que residiam.
Contemplavam, com água na boca, as laranjas maduras, e respiravam, a bom respirar, o ar leve e puro da manhã.
A certa altura da estrada, o velho depôs uma sacola sobre a grama verde e macia e começou a enchê-la com os frutos que descansavam em grandes caixas abertas, ao mesmo tempo que lançava olhares medrosos, em todas as direções.
Preocupado com o que via, Antoninho dirigiu-se ao companheiro e indagou:
- Que fazes, titio?
Colocando o indicador da mão direita nos lábios entreabertos, o velho respondeu:
- Psiu!... psiu!
Em seguida, acrescentou em voz baixa:
Aproveitemos agora, enquanto ninguém nos vê, e apanhemos algumas laranjas, às escondidas.
O menino, contudo, muito admirado, apontou com um dos pequenos dedos para o céu e exclamou:
Mas, o senhor não sabe que Deus nos está vendo?
Muito espantado, o velho empalideceu e voltou a recolocar os frutos na caixa, de onde os havia retirado, murmurando:
Obrigado, meu Deus, por haveres despertado a minha consciência, pelos lábios de uma criança.
E, desde esse momento, o tio de Antoninho passou a ser realmente outro homem.
* * *

Prece de Cáritas

 

Prece de Cáritas

DEUS, nosso Pai, que sois todo poder e bondade, dai forca àquele que passa pela provação; dai luz àquele que procura a verdade, pondo no coração do homem a compaixão e a caridade. Deus, dai ao viajor a estrela guia; ao aflito a consolação; ao doente o repouso. Pai, dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a verdade, a criança o guia, ao órfão o pai. Senhor, que a vossa bondade se estenda sobre tudo que Criastes. Piedade Senhor, para aqueles que não vos conhecem, esperança para aqueles que sofrem. Que a Vossa bondade permita aos espíritos consoladores derramarem por toda parte a paz, a esperança e a fé. Deus, um raio, uma faísca do Vosso amor pode abrasar a terra. Deixa-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e infinita e todas as lágrimas secarão, todas as dores acalmar-se-ão. Um só coração, um só pensamento subirá até Vós como um grito de reconhecimento e amor. Como Moisés sobre a montanha, nos Vós esperamos com os braços abertos, oh! Poder... oh! Bondade... oh! Beleza... oh! Perfeição, e queremos de alguma sorte alcançar a Vossa misericórdia. Deus, dai-nos a força de ajudar o progresso a fim de subirmos até Vós. Dai-nos a caridade pura; dai-nos a fé e a razão; dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas, o espelho onde deve refletir a Vossa Santa e Misericordiosa imagem.
* * *

 

Prece de Cáritas

DEUS, nosso Pai, que sois todo poder e bondade, dai forca àquele que passa pela provação; dai luz àquele que procura a verdade, pondo no coração do homem a compaixão e a caridade. Deus, dai ao viajor a estrela guia; ao aflito a consolação; ao doente o repouso. Pai, dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a verdade, a criança o guia, ao órfão o pai. Senhor, que a vossa bondade se estenda sobre tudo que Criastes. Piedade Senhor, para aqueles que não vos conhecem, esperança para aqueles que sofrem. Que a Vossa bondade permita aos espíritos consoladores derramarem por toda parte a paz, a esperança e a fé. Deus, um raio, uma faísca do Vosso amor pode abrasar a terra. Deixa-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e infinita e todas as lágrimas secarão, todas as dores acalmar-se-ão. Um só coração, um só pensamento subirá até Vós como um grito de reconhecimento e amor. Como Moisés sobre a montanha, nos Vós esperamos com os braços abertos, oh! Poder... oh! Bondade... oh! Beleza... oh! Perfeição, e queremos de alguma sorte alcançar a Vossa misericórdia. Deus, dai-nos a força de ajudar o progresso a fim de subirmos até Vós. Dai-nos a caridade pura; dai-nos a fé e a razão; dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas, o espelho onde deve refletir a Vossa Santa e Misericordiosa imagem.
* * *

Princípios Redentores

 

Princípios Redentores

Não se esqueça de que Deus é o tema central de nossos destinos. Deseje o bem dos outros, tanto quanto deseja o próprio bem.
Concorde imediatamente com os adversários.
Respeite a opinião dos vizinhos. Evite contendas desagradáveis.
Empreste sem aguardar restituição.
Dê seu concurso às boas obras, com alegria.
Não se preocupe com os caluniadores.
Agradeça ao inimigo pelo valor que ele lhe atribui.
Ajude as crianças.
Não desampare os velhos e doentes.
Pense em você, por último, em qualquer jogo de benefícios.
Desculpe sinceramente.
Não critique a ninguém.
Repare seus defeitos, antes de corrigir os alheios.
Use a fé e a prudência.
Aprenda a semear, preparando boa ceifa.
Não peça uvas ao espinheiro.
Liberte-se do peso de excessivas convenções.
Cultive a simplicidade.
Fale o menos possível, relativamente a você e a seus problemas.
Estimule as qualidades nobres dos companheiros.
Trabalhe no bem de todos.
Valorize o tempo.
Metodize o trabalho, sabendo que cada dia tem as suas obrigações.
Não se aflija.
Sirva a toda gente sem prender-se.
Seja alegre, justo e agradecido.
Jamais imponha seus pontos de vista.
Lembre-se de que o mundo não foi feito apenas para você.
*
As ciências sociais de hoje apresentam semelhantes princípios como novidades. No entanto, são antigos. Chegaram à Terra, com o Cristo, há quase vinte séculos. Nós outros, porém, espíritos atrasados no entendimento, somos ainda tardios na aplicação.
* * *

Terapia da Oração

 

Terapia da Oração

Recurso valioso para todo momento ou necessidade, a oração encontra-se ao alcance de quem deseja paz e realização, alterando para melhor os fatores que fomentam a vida e facultam o seu desenvolvimento.
A oração é o instrumento pelo qual a criatura fala a Deus, e a inspiração lhe chega na condição de divina resposta.
Quando alguém ora, luariza a paisagem mental e inunda-se de paz, revitalizando os fulcros da energia mantenedora da vida.
A oração sincera, feita de entrega íntima a Deus, desenvolve a percepção de realidades normalmente não detectadas, que fazem parte do mundo extrafísico.
O ser material é condensação do energético, real, transitoriamente organizado em complexos celulares para o objetivo essencial da evolução. Desarticulando-se, ou sofrendo influências degenerativas, necessita de reparos nos intrincados mecanismos vibratórios, de modo a recompor-se, reequilibrar-se e manter a harmonia indispensável, para alcançar a finalidade a que se destina.
*
O psiquismo que ora, consegue resistências no campo de energia, que converte em forças de manutenção dos equipamentos nervosos funcionais da mente e do corpo.
A oração induz à paz e produz estabilidade emocional, geradora de saúde integral.
A mente que ora, sintoniza com as Fontes da Vida, enriquecendo-se de forças espirituais e lucidez.
Terapia valiosa, a oração atrai as energias refazentes que reajustam moléculas orgânicas no mapa do equilíbrio físico, ao tempo que dinamiza as potencialidades psíquicas e emocionais, revigorando o indivíduo.
Quando um enfermo ora, recebe valiosa transfusão de forças, que vitalizam os leucócitos para a batalha da saúde e sustentação dos campos imunológicos, restaurando-lhes as defesas.
*
O indivíduo é sempre o resultado dos pensamentos que elabora, que acolhe e que emite.
O pessimista autodestrói-se, enquanto o otimista auto-sustenta-se.
Aquele que crê nas próprias possibilidades desenvolve-as, aprimora-as e maneja-as com segurança.
Aqueloutro que duvida de si mesmo e dos próprios recursos, envolvendo-se em psicosfera perturbadora, desarranja os centros de força e exaure-se, especialmente quando enfermo. Assemelha-se a uma vela acesa nas duas extremidades, que consome duplamente o combustível que sustenta a luz, até sua extinção.
A mente que se vincula à oração ilumina-se sem desprender vitalidade, antes haurindo-a, e mais expandindo a claridade que possui.
Envolvendo-se nas irradiações da oração a que se entregue, logrará o ser enriquecer-se de saúde, de alegria e paz, porquanto a oração é o interfone poderoso pelo qual ele fala a Deus, e por cujo meio, inspirado e pacificado, recebe a resposta do Pai.
Ao lado, portanto, de qualquer terapia prescrita, seja a oração a de maior significado e a mais simples de ser utilizada.
*  *  *

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Aprender e refazer



Aprender e refazer

Todos os Espíritos desencarnados, que se atrasam em
pesadelos da revolta, acordam, um dia.
Surge-lhes o arrependimento, no âmago do ser, em lágrimas
jubilosas, quais se fossem prisioneiros repentinamente libertos.
Derruída a masmorra de trevas em que jaziam encadeados,
respiram, enfim, a grande emancipação, junto dos amigos que
lhes estendem os braços. Observam, porém, a sombra que ainda
carregam, contrastando com a luz em que se banham,
transfigurados, e que suspiram por merecer; sentem-se, aí, na
condição de pássaros mutilados, a reconhecerem o valor da
experiência física em que lhes cabe refazer as próprias asas, e
volvem, ansiosos, à procura do antigo ninho de serviço e de
amor, que os alente e restaure. Quase sempre, contudo, ensejos
passaram, paisagens queridas alteraram-se totalmente,
facilidades sumiram e afetos abandonados evoluíram noutros
rumos...
Ainda assim, é necessário lutar na conquista do recomeço.
Personalidades do poder transitório, que abusaram do povo,
assistem às privações das classes humildes, verificando o
martírio silencioso dos que se levantam cada dia, para a
contemplação da própria miséria; avarentos que rolaram no ouro
regressam às paredes amoedadas dos descendentes,
acompanhando os mendigos que lhes recorrem à caridade,
anotando quanto dói suplicar migalha a corações petrificados no
orgulho; escritores que se faziam especialistas da calúnia ou do
escândalo tornam à presença dos seus próprios leitores,
examinando os entorpecentes e corrosivos mentais que
segregavam, impunes; pais e mães displicentes ou desumanos
voltam ao reduto doméstico dos rebentos desorientados,
considerando as raízes da viciação ou da crueldade, plantadas
por eles mesmos; malfeitores, que caíram na delinqüência,
socorrem as vítimas de criminosos vulgares, avaliando os
processos de sofrimento com que supliciavam a carne e a alma
dos semelhantes...
Mas isso não basta.
Depois do aprendizado, é preciso retomar o campo de ação,
renascer e ressarcir, progredir e aprimorar, solvendo débito por
débito perante a Lei.
*
Companheiro do mundo, se o conhecimento da reencarnação
já te felicita, sabes que a existência na Terra é preciosa bolsa de
trabalho e de estudo, com amplos recursos de pagamento.
Assim pois, seja qual seja a provação que te assinala o
caminho, sofre, amando, e agradece a Aprender e refazer
Reunião pública de 9-6-61
1ª Parte, cap. IX, item 21
Todos os Espíritos desencarnados, que se atrasam em
pesadelos da revolta, acordam, um dia.
Surge-lhes o arrependimento, no âmago do ser, em lágrimas
jubilosas, quais se fossem prisioneiros repentinamente libertos.
Derruída a masmorra de trevas em que jaziam encadeados,
respiram, enfim, a grande emancipação, junto dos amigos que
lhes estendem os braços. Observam, porém, a sombra que ainda
carregam, contrastando com a luz em que se banham,
transfigurados, e que suspiram por merecer; sentem-se, aí, na
condição de pássaros mutilados, a reconhecerem o valor da
experiência física em que lhes cabe refazer as próprias asas, e
volvem, ansiosos, à procura do antigo ninho de serviço e de
amor, que os alente e restaure. Quase sempre, contudo, ensejos
passaram, paisagens queridas alteraram-se totalmente,
facilidades sumiram e afetos abandonados evoluíram noutros
rumos...
Ainda assim, é necessário lutar na conquista do recomeço.
Personalidades do poder transitório, que abusaram do povo,
assistem às privações das classes humildes, verificando o
martírio silencioso dos que se levantam cada dia, para a
contemplação da própria miséria; avarentos que rolaram no ouro
regressam às paredes amoedadas dos descendentes,
acompanhando os mendigos que lhes recorrem à caridade,
anotando quanto dói suplicar migalha a corações petrificados no
orgulho; escritores que se faziam especialistas da calúnia ou do
escândalo tornam à presença dos seus próprios leitores,
examinando os entorpecentes e corrosivos mentais que
segregavam, impunes; pais e mães displicentes ou desumanos
voltam ao reduto doméstico dos rebentos desorientados,
considerando as raízes da viciação ou da crueldade, plantadas
por eles mesmos; malfeitores, que caíram na delinqüência,
socorrem as vítimas de criminosos vulgares, avaliando os
processos de sofrimento com que supliciavam a carne e a alma
dos semelhantes...
Mas isso não basta.
Depois do aprendizado, é preciso retomar o campo de ação,
renascer e ressarcir, progredir e aprimorar, solvendo débito por
débito perante a Lei.
*
Companheiro do mundo, se o conhecimento da reencarnação
já te felicita, sabes que a existência na Terra é preciosa bolsa de
trabalho e de estudo, com amplos recursos de pagamento.
Assim pois, seja qual seja a provação que te assinala o
caminho, sofre, amando, e agradece a deus .

Lei do mérito



Lei do mérito

Se presumes que Deus cria seres privilegiados para incensarlhe
a grandeza, pensa na justiça, antes da adoração.
Para isso, basta lembrar as circunstâncias constrangedoras em
que desencarnaram quase todos os grandes vultos das ciências,
das religiões e das artes, que marcaram as idéias do mundo, nas
linhas da emoção e da inteligência.
Dante, exilado.
Leonardo da Vinci, semiparalítico.
Colombo, em desvalimento.
Fernão de Magalhães, trucidado.
Galileu, escarnecido.
Behring, faminto.
Lutero, perseguido.
Calvino, endividado.
Vicente de Paulo, paupérrimo.
Spinoza, indigente.
Milton, privado da visão.
Lavoisier, guilhotinado.
Beethoven, surdo.
Mozart, em penúria extrema.
Braille, tuberculoso.
Lincoln, assassinado.
Joule, inválido.
Curie, esmagado sob as rodas de um carro.
Lilienthal, num desastre de aviação.
Pavlov, cego.
Gandhi, varado a tiros.
Gabriela Mistral, cancerosa.
E se gênios da altura de Hugo e Pasteur, Edison e Einstein,
partiram da Terra menos dolorosamente, é forçoso reconhecer
que passaram, entre os homens, também sofrendo e lutando,
junto à bigorna do trabalho constante.
Cada consciência é filha das próprias obras.
Cada conquista é serviço de cada um.
Deus não tem prerrogativas ou exceções.
Toda glória tem preço.
É a lei do mérito, da qual ninguém escapa.

Lugar depois da morte



Lugar depois da morte

Muitas vezes perguntas, na Terra, para onde seguirás, quando
a morte venha a surgir...
Anseias, decerto, a ilha do repouso ou o lar da união com
aqueles que mais amas...
Sonhas o acesso à felicidade, à maneira da criança que
suspira pelo colo materno...
Isso, porém, é fácil de conhecer.
Toda pessoa humana é aprendiz na escola da evolução, sob o
uniforme da carne, constrangida ao cumprimento de certas
obrigações;
nos compromissos do plano familiar;
nas responsabilidades da vida pública;
no campo dos negócios materiais;
na luta pelo próprio sustento...
O dever, no entanto, é impositivo da educação que nos obriga
a parecer o que ainda não somos, para sermos, em liberdade,
aquilo que realmente devemos ser.
Não olvides, assim, enobrecer e iluminar o tempo que te
pertence.
*
Não nos propomos nivelar homens e animais; contudo, numa
comparação reconhecidamente incompleta, imaginemos seres
outros da natureza trazidos ao regime do espírito encarnado na
esfera física.
O cavalo atrelado ao carro, quando entregue ao descanso,
corre à pastagem, onde se refocila na satisfação dos próprios
impulsos.
A serpente, presa para cooperar na fabricação de soro
antiofídico, se for libertada, desliza para a toca, onde
reconstituirá o próprio veneno.
O corvo, detido para observações, quando solto, volve à
imundície.
A abelha, retida em observação de apicultura, ao
desembaraçar-se, torna, incontinenti, à colméia e ao trabalho.
A andorinha engaiolada para estudo, tão logo se veja fora da
grade, voa no rumo da primavera.
Se desejas saber quem és, observa o que pensas, quando estás
sem ninguém; e se queres conhecer o lugar que te espera, depois
da morte, examina o que fazes contigo mesmo nas horas livres .

Palavras de esperança



Palavras de esperança

Se não admites a sobrevivência após a morte, interroga
aqueles que viram partir os entes mais caros.
Inquire os que afagaram as mãos geladas de pais afetuosos,
nos últimos instantes do corpo físico; sonda a opinião das viúvas
que abraçaram os esposos, na longa despedida, derramando as
agonias do coração, no silêncio das lágrimas; informa-te com os
homens sensíveis que sustentaram nos braços as companheiras
emudecidas, tentando, em vão, renovar-lhes o hálito na hora
extrema; procura a palavra das mães que fecharam os olhos dos
próprios filhos, tombados inertes, nas primaveras da juventude
ou nos brincos da infância... Pergunta aos que carregaram um
esquife, como quem sepulta sonhos e aspirações no gelo do
desalento, e indaga dos que choram sozinhos, junto às cinzas de
um túmulo, perguntando por que...
Eles sabem, por intuição, que os mortos vivem, e reconhecem
que, apenas por amor deles, continuam igualmente a viver.
Sentem-lhes a presença, no caminho solitário em que
jornadeiam, escutam-lhes a voz inarticulada com os ouvidos do
pensamento e prosseguem lutando e trabalhando simplesmente
por esperarem os supremos regozijos do reencontro.
*
Se um dia tiveres fome de maior esperança, não temas, assim,
rogar a inspiração e assistência dos corações amados que te
precederam na grande viagem. Estarão contigo, a sustentar-te as
energias, nas tarefas humanas, quais estrelas no céu noturno da
saudade, a fim de que saibas aguardar, pacientemente, as luzes
da alva.
Busca-lhes o clarão do amor, nas asas da prece, e, se nos
templos veneráveis do Cristianismo, alguém te fala de Moisés,
reprimindo as invocações abusivas de um povo desesperado,
lembra-te de Jesus, ao regressar do sepulcro para a intimidade
dos amigos desfalecentes, exclamando, em transportes de júbilo:
“A paz esteja convosco.”

Problema conosco



Problema conosco

Não os criaria Deus à parte.
Os gênios perversos das interpretações religiosas somos nós
mesmos, quando adotamos conscientemente a crueldade por
trilha de ação.
*
Observa as lágrimas dos órfãos e das viúvas, ao desamparo.
Há quem as faça correr.
Repara os apetrechos de guerra, estruturados para assaltar
populações indefesas.
Há quem os organize.
Anota as rebeliões que se transfiguram em crimes.
Há quem as prepare.
Pensa nos delitos que levantam as penitenciárias de
sofrimento.
Há quem os promova.
Medita nas indústrias do aborto.
Há quem as garanta.
Pondera quanto aos movimentos endinheirados do lenocínio.
Há quem os resguarde.
Reflete nos mercados de entorpecentes.
Há quem os explore.
*
Enunciando, porém, semelhantes verdades, não acusamos
senão a nós mesmos.
A condição moral da Terra é o nosso reflexo coletivo.
Todos temos acertos e desacertos.
Todos possuímos sombra e luz.
Consciências encarnadas em desvario fazem os desvarios da
esfera humana.
Consciências desencarnadas em desequilíbrio geram os
desequilíbrios da esfera espiritual.
É por isso que o Evangelho assevera: “Ninguém entrará no
reino de Deus sem nascer de novo”.
E o Espiritismo acentua: “Nascer, viver, morrer, renascer de
novo e progredir continuamente, tal é a lei”.
Em suma, isso quer dizer que ninguém conseguirá desertar da
luta evolutiva.
Continuemos, pois, vigilantes no serviço do próprio
burilamento, na certeza de que o amor puro liquidará os infernos,
quando nós, que temos sido inteligências transviadas nos
domínios da ignorância, estivermos sublimados pela força da
educação.

Previdência



Previdência

Há quem pergunte quanto à insistência com que os amigos
espirituais se reportam à sublimação da alma.
Aqui, mencionam a reencarnação, exaltando a justiça.
Ali, assinalam a experiência terrestre por escola de
aperfeiçoamento moral.
Adiante, ensinam o culto do Evangelho de Jesus, com os
princípios espíritas, no recesso dos lares.
Mais além, destacam a oração por luz da vida íntima.
Por que tamanha preocupação com o futuro dos outros?
Isso, porém, e tão natural quanto qualquer instituto de
amparo, no plano físico, onde os homens são obrigados a se
prevenirem contra as necessidades fatais.
Reúnem-se economistas e administradores, estudando a
distribuição dos recursos destinados à alimentação do povo, de
vez que o descaso estabelece conseqüências de controle difícil.
Higienistas movimentam medidas que assegurem o asseio
público, porquanto relegar populações à imundície é favorecer a
epidemia destruidora.
Professores fundam escolas em todas as regiões, para que a
ignorância não animalize a comunidade.
Milhares de laboratórios manipulam medicamentos de
fórmulas diversas, entendendo-se que, sem o apoio da Medicina,
as enfermidades limitariam desastrosamente a existência
humana.
Sem previdência, qualquer organização ruiria indefesa.
*
Enquanto lhes for permitido pela Divina Bondade, as
criaturas desencarnadas, despertas para o bem, falarão às
criaturas encarnadas quanto aos imperativos da lei do bem. Isso
porque todas as paixões inferiores que carregamos para o túmulo
são calamidades mentais a valerem por loucura contagiosa, e,
compreendendo-se que todos somos uma família única, é preciso
reconhecer que o desequilíbrio, de um só, é fator de perturbação
atingindo a família inteira.

Melhorar



Melhorar

Sofres constantes vicissitudes e suspiras por melhorar.
De afeições prediletas, colheste calhaus por flores.
Amigos que abraçavas, confiante, voltaram-te o rosto,
atirando-te fogo ao peito.
Age, porém, como se nada disso houvesse acontecido, e
continua distribuindo o pão da bondade.
Observas que o trabalho te pede sacrifício maior.
Tarefas, reconhecidamente dos outros, são relegadas às tuas
mãos.
Procede, entretanto, como se os deveres agravados te
pertencessem, honrando a casa de responsabilidade e suor, casa
que te valoriza a existência.
Apreciações incompletas, que te escaparam da boca, são
motivo a comentários que te deprimem.
Reparas, com tristeza, que te pregam às costas o cartaz da
ironia.
Caminha, contudo, como se a maldade circulante não
existisse, porque, em verdade, os melhores companheiros não
tem obrigação de conhecer-te os intentos nobres.
Ações edificantes que iniciaste foram interrompidas com
desrespeito.
Retalharam-te o nome e apedrejaram-te a alma.
Segue, no entanto, à frente, como se tudo isso tivesse de
suceder mesmo assim, para que refaças as próprias obras, no
rumo da perfeição.
*
Todos trazemos do passado larga bagagem de defeitos e
prejuízos.
Alimentá-los ao preço de inquietação e revide seria perpetuar
o desequilíbrio e a aflição.
Se aspiras a solucionar os problemas da vida, serve e perdoa,
sem condições.
No mundo moral não existe oposição que resista
indefinidamente à força do exemplo.
Se o desânimo te ameaça, desce os olhos e contempla o teu
próprio corpo e o teu próprio corpo dirá em silêncio que, para
sustentar-te o espírito, infatigavelmente, ele mesmo vive em
regime incessante de serviço e perdão para melhorar.

Previdência

IDENTIFICAÇÃO DO ESPÍRITO



IDENTIFICAÇÃO DO ESPÍRITO

– Corria o ano de 1581, quando um caso estranho ocorreu em Sevilha – contou-nos o
Espírito do Padre Diego Ortigosa, em agradável tertúlia fraternal.
– Desencarnara um médico atencioso e amigo dos pobres, D. Juarez Costanera y Salcedo –
continuou ele com a graça do narrador inteligente –, quando, alguns meses mais tarde,
apareceu uma jovem que se dizia assistida pela alma do esculápio, ensinando medicação à
pobreza desamparada. Encheu-se-lhe a casa humilde e tosca de famintos da saude e o
médico desencarnado atendia, de boa vontade, orientando o tratamento de criaturas
enfermas e infelizes. A donzela, convertida em intermediária, não mais encontrou tempo para
cuidar de aí mesma. As horas disponíveis eram escassas para atender a pessoas doentes e
abatidas de sua cidade e vizinhanças. Pouco a pouco, o fenômeno tornava-se conhecido a
distância e grande número de peregrinos lhe batiam à porta. Vinham de longe e queriam
possuir, de novo, a saúde, a paz, a esperança.
Corria o interessante trabalho regularmente, mas os familiares de Costanera y Sucedo não
viram com bons olhos a movimentação popular, em torno da memória do seu chefe
desencarnado.
A jovem Cecília Anteguera, que servia de médium entre o morto prestativo e as criaturas
angustiadas, tinha vida simples, atendendo às necessidades dos outros e aos seus próprios
deveres em família, mas foi denunciada à Inquisição como feiticeira.
Não tardou o encarceramento. A acusada invocou os princípios de caridade a que servia,
recorreu ao nome de Deus, amigos dedicados intercederam por ela, junto aos algozes, mas
a pobrezinha foi retida, incomunicável, para longas inquirições. A par dos beneficiários
agradecidos que pediam a sua absolvição, surgiram senhoras fanatizadas e cavalheiros
inconscientes que afirmavam tê-la visto entregando-se a noturnos sortilégios, na via pública,
ou explorando a boa fé alheia, como ladra vulgar, terminando as acusações gratuitas com o
pedido de condenação formal e imediata. Alguns chegavam a rogar lhe fosse dada a benção
da fogueira ou a graça de ser esquartejada viva, no auto-de-fé, em nome da caridade da
Igreja.
E não valeram os bons ofícios dos protetores prestigiosos.
O padre Gaspar Alfonso Costanera y Salcedo, primo do morto, estava interessado na
perseguição e, por isso, fez o possível por guardar a jovem na cela imunda. Prometia uma
verificação pessoal. Queria certificar-se. Muitos santos da Igreja haviam visto e ouvido as
almas dos mortos. E acrescentava, pedante, que esses fatos eram conhecidos desde os
patriarcas hebreus, não obstante a proibição de Moisés, que se manifestara contrário ao
intercâmbio com os mortos. Entretanto, a seu ver, aquela mulher seria uma bruxa mentirosa
e repugnante. Seu primo D. Juarez estava no Céu, gozando a companhia dos anjos e não


voltaria, a confabular com mortais desprezíveis. Para isso recebera missas a rodo e solenes
exéquias. Que motivo, perguntava ele, levaria um médico a apaixonar-se pelos doentes,
além do túmulo? Os Santos e Santas tinham visto almas glorificadas, em beatitude celeste,
mas aquela endemoninhada tinha o topete de afirmar que o seu ilustre parente continuava a
interessar-se pela medicina, depois da morte.
Não seria loucura? interrogavam os amigos da acusada. E, se fosse, não seria justo
desculpar a demente?
O padre loquaz, porém, deblaterava, irritadiço, e insistia pela prova final.
Com efeito, após longos dias de expectativa, Cecília Anteguera, abatida e enferma, trazendo
nos punhos e braços os sinais de terríveis flagelações, foi trazida a uma sala vastíssima,
onde se reuniam alguns juízes eclesiásticos, sob a presidência do Inquisidor-mor.
A pobre medianeira, sob olhares sarcásticos, rogou, em silêncio, a Deus a visita do médico
desencarnado. Não seria razoável que o Espírito desse prova de sua sobrevivência? ficaria
desamparada, perante os verdugos?
Eis que D. Juarez, o morto, se aproxima.
Transfigura-se a médium. Observando-lhe a palidez e as alterações fisionômicas, o padre
Gaspar atende a um sinal do Inquisidor-mor e pergunta, contendo a emoção:
– Estamos em presença do demônio?
A entidade sorriu, utilizando os lábios de Cecília, e respondeu:
– Estais em presença do Espírito.
– Como se chama? – indagou o clérigo.
– Não tenho nome – replicou o desencarnado –, o Espírito é universal.
E continuou o diálogo :
– Confessa que já morreu?
– Sim, já perdi o corpo físico.
– Tem uma pátria?
– Tenho.
– Qual?
– O mundo inteiro.


– Deixou alguma família na Terra?
– Deixei,
– Como se chama essa família?
Antes da resposta, os inquisidores denotavam grande aflição, mas D. Juarez respondeu sem
hesitar:
– Chama-se Humanidade.
– Vem do inferno ou do purgatório?
– Não é de vossa conta.
– Tem recomendações a fazer a pessoas do mundo carnal?
– Não devo lembrar o que me compete esquecer para o bem comum.
– Reconhece a autoridade da Igreja?
– Reconheço a eterna autoridade de Jesus - Cristo.
– Oh! Oh!... – exclamaram os circunstantes.
– Finalmente, qual a sua profissão de fé, o seu propósito? – perguntou o padre Gaspar,
exasperado.
D. Juarez, o morto, respondeu sem titubear:
– Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a mim mesmo, cultivar a verdade,
fazer o bem e colaborar na fraternidade universal.
Nesse instante, levantaram-se todos, sob grande revolta. O Inquisidor-mor recomendou o
recolhimento da endemoninhada, até ulterior deliberação, explicando-se aos sevilhanos que
coisa alguma ficara esclarecida e que o assunto não passava de farsa condenável e odiosa.
O narrador fez uma pausa mais longa, mas um dos amigos presentes, interpretando o nosso
interesse, indagou :
– E a médium? que lhe aconteceu?
– Vocês ainda perguntam? – disse o padre Ortigosa, em tom significativo – como a
Inquisição não podia punir o Espírito, queimou a intermediária, em soleníssimo auto-de-fé.
Em seguida sorriu bondosamente e concluiu :


– Cecília de Anteguera, porém, logo após entregar o corpo às cinzas, uniu-se ao Espírito de
D. Juarez, em serviço muito mais elevado e profícuo às criaturas humanas, encontrando no
sacrifício a sua melhor realização, convertendo-se ainda em devotada amiga de todos os
seus acusadores e verdugos, aos quais sempre recebeu, caridosamente, nos primeiros
degraus da passagem sombria do túmulo.

QUEM AVISA


 
QUEM AVISA

Conta-se que um cômico célebre, em pleno espetáculo, recebeu, no entreato, um telegrama
triste, anunciando-lhe a morte do pai. Desatando as lágrimas, voltou à ribalta, em suprema
consternação, comunicando à platéia : – “Meus senhores, acabo de ser informado de que
meu pai morreu!...” Ao invés, porém, da compunção dos ouvintes, recebeu estonteantes
aplausos. O público ria gostosamente, acreditando na continuação da peça, embora o
patético a caracterizar-se no rosto angustiado do artista. Naquele instante, seu coração era
uma fonte de lágrimas, sustentando um rio de gargalhadas.
Onde a culpa do infeliz?
Há pessoas que nascem na Terra com o dom de chorar para que outros desenvolvam a
faculdade de rir.
A propósito, conheço um homem que viveu alguns anos no mundo escrevendo anedotário
venenoso, que muitos leitores consumiam, ávidos, no silêncio de salas desertas. Cavalheiros
respeitáveis e senhoras bem postas, jovens de ambos os sexos, recolhiam-se, de quando
em quando, em obscuros recantos da casa, cultivando a perfídia sorridente e a ironia
maliciosa. Liam com interesse, lembravam pessoas de suas relações, emoldurando-as nos
quadros que a leitura lhes sugeria e, não raro, cerravam a porta, a fim de viverem, mais
intensamente, as impressões recolhidas.
O pobre autor desempenhava atribuições de escriba popular. Nas ruas, nos cafés, nas
bancas de jornais, nas rodas de amigos, surpreendia todas as notas picantes, aproveitandoas
em molho de escândalo na frigideira da gramática para o consumo geral. Os fregueses
eram numerosos e, por isso, não era pequeno o trabalho das linotipos.
O comentarista alegre, contudo, se fazia rir como Triboulet, o palhaço, a fim de ganhar a
vida, no fundo de si mesmo desejava ser como Epaminondas, o tebano ilustre, que morreu
amando as realizações honestas. E mais tarde, ao apagar das luzes, ele, que vendia risos,
passou a exportar sofrimentos. Com a renovação espiritual, modificou-se-lhe a clientela.
Suas páginas não mais figuravam entre as leituras secretas guardadas a sete chaves. Eram,
agora, folhas pálidas de filosofia da desilusão, da sombra, do destino e da dor.
Encontrou, nessa fase, amizades mais sólidas. Junto daqueles que colhem as rosas da
existência humana, inumeráveis são as fileiras dos que trabalham entre os espinhos e, se
alguns espíritos jovens estão bailando despreocupados, no festim da vida carnal, são
incontáveis os corações amadurecidos que velam, súplices, nas trevas da noite. Em vista
disso, talvez, encontrou ele simpatias novas, mais claras e mais sinceras.
Mergulhado nesse campo de vibrações diferentes, transferiu-se para o castelo da morte,
onde, surpreendido, encontrou as profundas e maravilhosas revelações da vida. Renovado,
feliz, prosseguiu escrevendo para os companheiros de luta, reavivando-lhes a esperança no


naufrágio das ilusões. Como marinheiro experiente, sentindo a inesperada segurança da
praia, atirava salva-vidas aos irmãos de sonho, que se debatiam a distância, na fúria das
águas móveis e traiçoeiras.
Mantinha-se nesse labor, quando os admiradores de sua primeira fase de serviço, velhos
cultivadores da malícia humana, gritaram do alto de sua superioridade:
– Êle? impossível. Como falar do Céu, quem se agarrava freneticamente à Terra?
– É mentira! êle não tinha fé!
– Como é isso?! há subversão na ordem espiritual? a pregação do bem estará confiada aos
impenitentes da vida humana?
O pobre comentarista desencarnado começou a receber acusações e pedradas. Alguns
adversários gratuitos, se pudessem, levantá-lo-iam do túmulo, para afrontá-lo a pancadas.
Surgiram discussões, perseguições, atritos.
Impressionado e comovido com as torturas de que o amigo era vítima,, procurei-o, em
pessoa, não só para confortá-la, mas também para recolher-lhe as íntimas impressões. Não
fui encontrá-la, porém, descabelado, a gritar, como personagem de ópera, em desespero.
Revelava-se calmo, sereno, seguro de si mesmo ; e, cheio de compreensão pelas fraquezas
do próximo, terminou a palestra, esclarecendo com um sorriso:
– Não, meu amigo, não estou desalentado. Se estivesse por lá, no turbilhão, talvez fizesse
pior. Se ainda me demorasse na carne e soubesse que um homem, como eu, andava
escrevendo sobre a iluminação eterna da alma, depois da morte do corpo, admitiria tudo,
menos a realidade. Muitos me acusam, gratuitamente, classificando-me de escritor
venenoso, mas... que fazer?
Fez longa pausa, mostrou maior lucidez no olhar compreensivo e concluiu :
– Não me preocupo, agora, por mim, que tenho a felicidade de resgatar o passado. Como é
natural, todavia, preocupo-me pelos meus antigos clientes, porque se me conhecem tão
bem, dão testemunho de que me leram com atenção. Leram e gostaram. E se eu,
presentemente, trabalho para destruir a árvore que plantei, eles que se preparem diante do
futuro, porquanto é provável que quase todos tenham de vomitar os frutos que ingeriram
gostosamente .